As novas normas da Língua Portuguesa
passam a ser obrigatórias em 2016. Você está preparado?
As regras do novo acordo ortográfico passam a valer definitivamente a
partir de 1º de janeiro de 2016. Se você ainda não domina todas as mudanças,
precisa se preparar para adotá-las (leia as principais alterações no
final desta página). Todo professor, independentemente da disciplina que
leciona, deve seguir as normas para escrever corretamente em diferentes
contextos - na preparação e na correção de atividades e provas, no quadro, nos
bilhetes enviados aos responsáveis e em textos direcionados aos colegas de
trabalho e à direção, como o planejamento.
A melhor forma de lembrar as alterações - e incorporá-las progressivamente - é
manter bons materiais de consulta sempre à mão. "Uma possibilidade é
recorrer a um dicionário com verbetes atualizados, que pode ficar em classe ou
na sala dos professores, até que todos se familiarizem com elas", diz
Clecio Bunzen, docente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). No
computador, usar versões recentes de corretores de texto também ajuda. Outra
dica é preparar colas sobre aquilo que desperta mais dúvidas, como o uso do
hífen, e deixá-las sempre à mão.
Bem informado e preparado, você estará apto a esclarecer questões trazidas
pelos alunos e ajudá-los a revisar seus textos. Crianças em processo de
alfabetização são as menos afetadas, pois já devem aprender conforme as novas
regras da língua. Além disso, nas séries iniciais, não há um trabalho de
reflexão sobre a acentuação ou sobre o uso do hífen - duas das principais
modificações. "Nesse momento, os pequenos se preocupam com outros aspectos
da ortografia, como escrever caracol com 'l' ou com 'u'", afirma Bunzen.
"Quando forem estudar os acentos, as regras novas já terão sido
internalizadas", afirma.
Os mais velhos, que conhecem as normas hoje em vigor, têm mais dúvidas.
"Eles precisam ser orientados por meio do ensino específico do que
mudou", explica Artur Gomes de Morais, professor da Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE) e autor de livros sobre o aprendizado da ortografia.
Segundo ele, é importante ler palavras grafadas corretamente, especialmente nos
casos em que as formas não podem ser compreendidas com regras. A recomendação,
nesse caso, também é usar materiais de consulta, sem se preocupar em levar a
turma a decorar as alterações não usadas com frequência.
Se a garotada se deparar com uma grafia antiga em um livro, por exemplo,
pode-se incentivar a investigação do "erro", buscando a data de
impressão dele. As alterações na ortografia podem ser resgatadas no momento em
que essas dúvidas surgem - sem desviar, é claro, do conteúdo previsto para a aula.
O que motivou o novo acordo
As mudanças foram planejadas visando unificar as regras do idioma no Brasil, em
Cabo Verde, em São Tomé e Príncipe, em Portugal, em Angola, na Guiné-Bissau, em
Moçambique e no Timor Leste, que vêm discutindo o tema desde os anos 1990. O
fator econômico foi determinante, pois a padronização vai facilitar a
integração comercial.
A unificação pode ainda estimular o intercâmbio científico e cultural entre
esses países. Embora todos falem a mesma língua, nem sempre é fácil entender
além de suas fronteiras o texto escrito em um deles. E isso impede que as
culturas nacionais transitem de um país para outro. "Com a reforma, é
esperado que os bens culturais dessas nações, como as produções literárias,
ganhem maior projeção e passem a ser mais consumidos fora de seu território de
origem", explica Ulisses Infante, professor da Universidade Tecnológica
Federal do Paraná (UTFPR) e autor de diversas obras sobre a língua.
A reforma não atinge todos os países da mesma maneira. No Brasil, por exemplo,
2 mil palavras sofreram alterações, ou seja, 0,5% do total. Já em Portugal
cerca de 10 mil termos mudaram - 1,5%. Lá, "óptimo" e
"acção" passaram a ser grafados como por aqui ("ótimo" e
"ação"), aproximando-se da linguagem oral comum no nosso país.
Mudanças ortográficas não são uma novidade no Brasil. As primeiras ocorreram em
1943, com o propósito de aproximar as normas oficiais da língua usada no
cotidiano, incorporando brasileirismos, por exemplo. Assim, foram endossadas
grafias como "comércio" e "farmácia", que já eram usadas
por aqui juntamente com "commercio" e "pharmacia" - comuns
em Portugal.
Uma nova atualização ocorreu em 1971. Nessa, o trema nos hiatos átonos (como em
"vaïdade") deixou de ser usado. Além disso, o acento circunflexo
diferencial nas letras "e" e "o" das palavras escritas da
mesma maneira, mas com sons distintos, foi eliminado. É o caso do substantivo
"almôço", que levava acento para ser distinguido de
"almoço", da conjugação do verbo almoçar na primeira pessoa do singular.
O mesmo ocorreu com o substantivo "comêço".
Esse percurso comprova que a língua é dinâmica e se altera com o passar dos
tempos. O mesmo ocorre com a ortografia, uma convenção social, fruto do momento
histórico. As mudanças do idioma, portanto, devem ser analisadas de acordo com
o contexto.
Mudanças na língua
1 Acento agudo
- Deixa de existir nos ditongos (encontro de duas vogais em uma só
sílaba) abertos "ei" e "oi" das palavras paroxítonas (que
têm a penúltima sílaba pronunciada com mais intensidade).
heróico heroico
assembléia assembleia
Observação: as oxítonas (com acento na última sílaba) e os monossílabos tônicos
terminados em "éi", "éu" e "ói", no singural e
plural (anéis, chapéu e herói) continuam com acento.
- Desaparece nas paroxítonas com "i" e "u" tônicos que
formam hiato (sequência de duas vogais que pertencem a sílabas diferentes) com
a vogal anterior, que, por sua vez, faz parte de um ditongo.
feiúra feiura
Observação: as vogais "i" e "u" continuam a ser acentuadas
se formarem hiato, mas estiverem sozinhas na sílaba ou seguidas de
"s" (baú e baús) ou, em oxítonas, se forem precedidas de ditongo e
estiverem no fim da palavra (tuiuiú).
2 Trema
- É eliminado, mas a pronúncia continua a mesma.
tranqüilo tranquilo
freqüente frequente
Observação: o sinal foi mantido em nomes próprios de origem estrangeira, bem
como em seus derivados (como em Müller e mülleriano).
3 Acento circunflexo
- Não é mais usado nas palavras terminadas em "oo".
enjôo enjoo
- Também desaparece o circunflexo na conjugação da terceira pessoa do plural do
presente do indicativo dos verbos crer, ler, ver e derivados.
lêem leem
Observação: nada muda na acentuação dos verbos ter e vir e dos seus derivados.
4 Acento diferencial
- Nos casos abaixo, não é mais usado para facilitar a identificação de
palavras homófonas, ou seja, que têm a mesma pronúncia.
- pára (forma verbal) e para (preposição)
- pelo (preposição + "o") e pêlo (substantivo)
Observação: duas palavras continuarão recebendo o acento diferencial:
- Pôr (verbo) mantém o circunflexo para que não seja confundido com a
preposição por.
- Pôde (verbo conjugado no passado) também mantém o acento para que não
haja confusão com pode (o mesmo verbo no presente).
5 Hífen
- Deixa de ser empregado quando o prefixo termina em vogal e o segundo
elemento começa com as consoantes "s" ou "r". A consoante,
então, passa a ser duplicada.
anti-religioso antirreligioso
- Caiu nos casos em que o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa
com outra.
auto-estrada autoestrada
Observação: ele se mantém quando o prefixo termina com "r" e o
segundo elemento começa com a mesma letra, como em super-resistente.